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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Carta ao Chromárcio: Luas de Lembranças II


Esse texto é dedicado a todos os amigos da época do Chromárcio, a todos meus professores, funcionários do colégio e a meu pai, pelo carinho.
Escrito em setembro de 2002 lido
numa noite de homenagens aos 80 anos do Colégio .

Início dos anos 80, exatamente1982, uma época que cheira a saudade. O tempo parecia correr menos para mim. As cores eram mais vibrantes, os corações batiam em ritmo acelerado uma característica própria do peculiar momento.
Não percebia as questões política e econômicas tangentes que os adultos costumam se preocupar. Vivia o aqui e o agora, gostava de brincar, apenas!
Ouvia falar de um antigo Colégio fundado por um padre que morrera há muitos anos,mas, de relevada importância para a cidade,pois, durante sua existência deixou um legado histórico e tradicional para educação em nosso município.
Pela tradição, muitos de minha família tinham estudado nele. Eu como ainda me complicava com as palavras, fazia uma referencia ao colégio como: O Velho Prédio !
Altivo, ficava no centro da cidade. Janelas de madeira maciça, cores sóbrias, grandes portões de ferro.Também não lembro muito bem o valor,mas sei,que meu pai pegou alguns trocado e em matriculou na 2ª serie do Colégio Cenecista Pe. Chromárcio Leão.
Como toda escola tradicional, em uma cidade que na época era pequena, todos conhecem todos. Estava na secretaria trabalhando a filha de Professor Napoleão, Ana, que me recebera com carinho, fez minha matricula e ouvindo atentamente as recomendações de meu pai em um tom doce de acalento respondeu:
-Não se preocupe Sr Luis ela agora está conosco!
Isso acontecera em meados de dezembro do referido ano, em fevereiro do ano posterior, estava eu com a mochila nas costas, com o material básico, lápis, cadernos e borrachas com aquele cheiro de novo,de primeiro dia de aula, sabe?
A fila da entrada era formada e meu pai me olhava com um jeito que só ele sabia me olhar e dizia: - Estude quero ver você formada. Depois de muitos anos entendi porque ele dava tanta importância a uma formatura. Minha mãe me contou que por ser muito pobre e educação era artigo de luxo, nunca pode estudar sendo alfabetizado por mamãe logo depois do matrimônio.
Todos os alunos da escola entravam de forma organizada com o fardamento completo. Como estávamos em tempos modernos a antiga calça de brim azul escuro fora substituída pela calça jeans, legal para jovens! O sapato era preto, e a camisa de malha azul que tinha um escudo ao lado esquerdo em formato de um livro e uma pena com o nome do colégio arrodeando as figuras.
Na entrada, Nil , antiga funcionaria responsável pela organização dos alunos. Estilo bedel, que contrastava com a modernidade de nossas calças jeans. Foram feitas as apresentações formais e de longe avistava meu pai acenando pra mim com ares de alegria por ver mais um filho entra em uma escola .
O tempo passou e eu me acostumei com a rotina escolar. Todos os dias meu pai não importava-se em acordar cedo para me levar ao Chromárcio, e sempre a mesma cena se repetia , ele acenando pra mim enquanto eu entrava no antigo prédio imponente.
Até que um dia ele não mais me trouxe até os portões, não porque eu desejasse, mas porque a vida o levou de mim. E também me levou para longe do antigo prédio imponente, deixando-me distante dos amigos, dos professores , das minhas lembranças e até de minha saudade.
Com a morte de meu pai fiquei afastada por um ano do colégio. Sentia fala de tudo a ponto de doer.Neste mesmo ano,eu estava na 5ª serie,fui matriculada em outra escola em outro bairro totalmente distante , mas não consegui passar nas provas.
Com o tempo minha mãe achou melhor voltarmos para o antigo bairro, para nossa antiga casa e enfrentar assim a saudade.E eu, novamente fui levada a frente daqueles portões, e desta vez, com outros trocados , minha mãe matriculou-me no meu velho colégio.
Então substituí minha saudade pela alegria. E sempre que entrava no pátio do Chromárcio Leão, parecia que avistava meu pai no portão me olhando com os mesmo ares de orgulho e acenando carinhosamente para mim.Ninguém nunca percebeu mas, sempre olhava pra trás procurando essa antiga visagem.
Há 20 anos atrás ensino fundamental era chamado ginásio, passei parte do meu primário e todas minhas series ginasiais no Colégio Cenescista Pe Chromárcio Leão. Nossa, lá eu aprendi tantas coisas que fica difícil enumerá-las,mas recordo-me bem, de alguns assuntos como de trigonomeria, da II guerra mundial , de Clarice Lispector , da Canção do Exílio  e das preposições.
Meu sobrinho estuda no Chromárcio e outro dia conversando comigo me perguntou: “Tia o que você aprendeu na escola? Eu respondi : aprendi a ser gente! Que experimenta saudade, amor , alegria...
Hoje, sou tanta coisa que às vezes me perco graças a tudo que aprendi no meu processo de formação vivenciado grande parte neste colégio. E trago, como legado  pelas mãos, meus sobrinhos que são como se fossem meus filhos, assim como meu pai fez comigo um dia . E como reprise do destino aceno para eles no portão e desta vez, parece que ele, meu pai , está ao meu lado sorrindo e acenando também, bem em frente do antigo prédio imponente.  




O Colégio Cenecista Pe Chromarcio Leão , foi desativado e hoje é uma loja de revenda motos  infelizmente, pouco resta do antigo prédio imponente




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Luas de Quíron
Jaboatão dos Guararapes, PE
Na verdade Quíron é uma figura Mitológica representada por um centauro: Metade humana, metade animal. Sua metade animal é um cavalo . Os centauros eram figuras perversas, mas não Quíron, que transmuta sua essência e possibilita a contra-referencia de nossa "humanidade". Quíron, simboliza até onde somos Humanos e até onde somos animais .
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http://luasdequiron.blogspot.com/

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