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terça-feira, 29 de novembro de 2011

LUAS DE HERANÇA !

A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NEGRA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO POVO BRASILEIRO
 A história de Tia Grin

Retinta cor de bourbon, seu nome falava de flôr: Grinalda[1], mas todos a chamavam de Tia Grin. Nome esse que fora dado por sua mãe quando nascera, pois parecia um adorno de noiva. Filha e neta de escravos, oriunda de Palmares, não sabia ao certo sua idade,  tampouco tinha leitura. Suas mãos mostravam seu tempo e o quanto trabalhou na lavoura.
Tia Grin era doce, amiga e sincera. Seu riso era incomparável, com o qual recebia a todos com dedicação maternal. Meus “sobrinhos”, era como chamava seus afetos que sempre eram acolhidos de bom grado em seu terreiro. Turbante adornando o cabelo, seu cachimbo inseparável, morava num pequeno sítio próximo na zona rural de Jaboatão Centro.
Tal pedaço de terra fora doado pela dona da Usina Colônia, pois seu marido, já falecido, tinha sido capataz dessas terras, lá pela década de 30. Com esse homem, ela teve 20 (vinte) filhos, alguns mortos de novinho e os vivos todos caíram no “oco do mundo”. Filhos, com ela, só os de santos, que a chamavam de madrinha. No seu terreiro, vivia só. Acredito que, por isso, deixava que a maioria das crianças do bairro pudesse fazer de sua casa um mágico pedaço de mundo. Lá os infantes podiam desfrutar de doces frutos nativos como: o araçá, jabuticaba, goiaba, sapoti, abacate, cajá... Além das crianças, quem quisesse um dedo de conversa poderia passar um longo tempo em sua companhia, acariciado pelo maravilho café torrado e pisado num pilão no quintal de sua casa.
   Muito respeitada, era curandeira e já passara por ela uma grande leva de meninas e meninos acometidos por mal-olhado, quebranto e ventre caído. Se o médico ou remédios de farmácia de seu Leitinho[2] não desse jeito à enfermidade, as suas ervas eram “tiro e queda”. E, mesmo indo à missa todos os domingos, os visinhos de tia Grin não dispensavam seus ungüentos.  Sua reza era forte, acometidas de segredos dos quais apenas ela poderia saber. Segundo os mais velhos, se tia Grin não resolvesse a doença,era para o indivíduo se preocupar, pois suas orações recitadas em Yorubá, Nagô e Gêji, misturadas, muitas vezes, a Ave- Marias, Salve Rainhas e Pai Nossos eram poderosas.             Apelava para os deuses africanos e os Santos Católicos, sim, sempre na intenção do bem e não cobrava um tostão por sua arte. Dizia que: “aquilo que de dom vem de graça ,  deve ser prestado.”
Deveras vezes, via-se tia Grin agachada ao frondoso pé de cajá, deixando sobre a sua sombra um alguidar de barro com farofas e outras oferendas. Esses rituais geralmente eram acometidos de festas que ela fazia, à custa de muito trabalho, em sua lavoura e de poucas doações.
Mas o sacrifício era virtuoso. Suas festas eram lindas. Chamava todos os “erês” (crianças) para enfeitar o terreiro com bandeirinhas e fitas, enquanto ensinava cantigas à molecada que aprendera com seus pais: “Escravos de Jô,jogavam cachangá , tira ,bota deixa o Zambelé ficar. Guerreiros com guerreiros fazem Zigue e zigue e záz.” E, como os escravos de zigue e zigue e záz, a gurizada saía correndo na doce anarquia de fuga.
Comida com fartura, Manguzá, cuscuz, galinha de capoeiras e danças fantásticas era o forte da festa. Em dia de Santo, tia Grin parecia ter asas. Rodopiava nas rodas de chão de barro batido com uma alegria diferente, vestida com longas saias de cambraia de linho e enfeites rodados, brilhos e indumentárias faziam dela, então ,uma rainha.
Por toda parte, ouvia-se a batida do bumbo na mão dos ogães. O toque ressoava e cortava toda noite até o nascer do dia, finalizando nos primeiros raios com a entrega da obrigação a seu orixá.
No carnaval, desfilava em Recife, em agremiações diversas, mas inesquecível era os caboclinhos que, antes de sair para os festejos monices, passavam por sua casa  lhe fazendo saudações.
Observando seus feitos, percebemos quão grandiosa era aquela mulher, nela se forma traços marcantes de nossa gente, cultura expressa de sua raiz, em cada gesto, em cada ação que demandava.
As mãos de Grinalda forma o retrato da labuta de tantas outras mulheres que nasceram nas mesmas condições e formaram à custa de muito labor os filhos e as filhas de nossa nação.
Tia Grin é uma persona, um arquétipo da mulher brasileira, representada pela grande diversidade de nossas tradições. Cada rito, cada credo, cada traço de cultura que herdamos foram oriundos dessas tantas outras personagens que constituiem a sociedade brasileira. De geração a geração, podemos ver representadas as figuras de poder e força marcadas, principalmente, pela mulher negra que, na maioria das vezes, vivia em situação precária, mas não perdia sua fé e regozijava em êxtase nos momentos de alegria.
Estendendo, o conceito de “identidade” está intimamente relacionado, não apenas ao conhecimento cultural,mas também ao reconhecimento social. Percebemos que caracterizam-se estas “identidades” como elementos políticos e históricos e constituíem, a partir do passado de escravizados, a representativa nos dias atuais de situações sociais perversas à população feminina negra do país. Esse quadro indicia que, no campo das relações étnicas no Brasil, há uma política de não-representatividade da população negra, o que implica em identidades não-manifestas, em benefícios negados à dignidade negra.
Apesar de nossa essência, a negativa dessa identidade remete a um novo “escravizar”. As discussões nesta perspectiva devem se articular com ações públicas específicas para redução das desigualdades.
Assim, a problematização sobre identidade do povo brasileiro deve se articular com políticas específicas de redução das desigualdades para a população negra, em especial com recortes focados para as mulheres que foram as mais vitimadas do legado perverso de nossa nação. Intervenções no campo das políticas de ação afirmativa, a inclusão de temáticas relacionadas à história e cultura de base africana nos currículos escolares, entre outras, devem fomentar o reforço a essa identidade. Desta foram, devemos incorporar que a construção da identidade como povo brasileiro corre nos traços herdados nas cores Bourbon retinto.
Em meados dos anos 80 (oitenta), tia Grin faleceu. Os médicos brancos não puderam conter o tempo e suas artimanhas, partindo, assim, a velha curandeira, deixando como herança o cheiro do seu café e o zigue e zigue e záz de suas ações afirmativas.
“Agbà obìnrin Ti gogbo ave n’pe sìn[1]
(Senhora plena de sabedoria, que todos veneramos juntos)


[1] Grinalda ou Tia Grin, é uma personagem fictícias, assim como os fatos relacionados a sua pessoa,sendo esta fruto de várias figuras simbólicas da sociedade Jaboatonense,pernambucana e do cootidiano, sistematizada nesta narrativa tendo como finalidade possibilitar o leitor uma visão ampla do contexto a ser sistematizado no decorrer do artigo.
[1] Sr. José Cavalcanti de Albuquerque Leite, mais conhecido com Sr Leitinho, foi farmacêutico dono de várias farmácias no centro de Jaboatão,hoje atualmente Regional 1, sendo figura ilustre de grande reconhecimento social, nos anos 60 à 90 ,citado neste texto como referencia simbólica alimentando o artigo de forma de ilustrativa para o texto.
[1] Frase retirada da oração para Oxum escrita por Obanise Xande: site http://www.orixas.com.br



terça-feira, 8 de novembro de 2011

PALAVRAS DO CORAÇÃO Bruna Caram


São sorrisos largos
Lagos repletos de azul
Os corações atentos
Ventos do sul
São visões abertas
Certas despertas pra luz
A emoção alerta
Que nos conduz
Sonhos aventuras
Juras promessas
Dessas que um dia acontecerão
Você me daria a mão?
Todos estes versos soltos dispersos
No meu novo universo serão
Palavras do coração
Os artifícios
Vícios deixando de ser
Os velhos compromissos
Pra esquecer
São pontos de vista
Uma conquista comum
O mesmo pé na estrada
De cada um
Sonhos aventuras
Juras promessas
Dessas que um dia acontecerão
Você me daria a mão?
Todos estes versos soltos dispersos
No meu novo universo serão
Palavras do coração.

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Luas de Quíron
Jaboatão dos Guararapes, PE
Na verdade Quíron é uma figura Mitológica representada por um centauro: Metade humana, metade animal. Sua metade animal é um cavalo . Os centauros eram figuras perversas, mas não Quíron, que transmuta sua essência e possibilita a contra-referencia de nossa "humanidade". Quíron, simboliza até onde somos Humanos e até onde somos animais .
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Quíron

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http://luasdequiron.blogspot.com/

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